Mielomeningocele
A mielomeningocele é a forma mais grave de espinha bífida, uma malformação congênita em que a coluna vertebral do bebê não se fecha completamente durante o desenvolvimento fetal. Nessa condição, a medula espinhal, nervos e meninges podem nascer expostos, formando uma bolsa visível nas costas. Isso compromete funções motoras, sensoriais e neurológicas, podendo afetar a mobilidade, a postura, o controle vesical e intestinal e aumentar o risco de deformidades ortopédicas ao longo do crescimento.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ocorrer ainda na gestação, por ultrassom morfológico e ressonância magnética fetal, ou logo após o nascimento, quando o defeito é evidente. A detecção precoce permite planejar o fechamento da lesão intrauterino ou pós-natal, protegendo a medula espinhal e reduzindo complicações.
O acompanhamento ortopédico é essencial porque a mielomeningocele provoca alterações progressivas nos músculos, ossos e articulações, que podem impactar a função e a qualidade de vida. Entre as alterações mais comuns estão:
- Deformidades nos membros inferiores: pés tortos, pés planos, encurtamento de tendões e desalinhamentos articulares. Sem intervenção, essas alterações podem dificultar a marcha e limitar a independência funcional.
- Escoliose e alterações da coluna: desvios da coluna vertebral são frequentes e podem gerar dor, dificuldade postural e problemas respiratórios se não tratados.
- Contraturas musculares: rigidez ou encurtamento muscular que limita movimentos e aumenta o risco de deformidades secundárias.
- Fraqueza muscular e alterações de marcha: dependendo do nível da lesão, a criança pode apresentar dificuldade para levantar, caminhar ou manter o equilíbrio, necessitando de órteses ou dispositivos auxiliares.
- Medula presa: o tecido cicatricial impede a movimentação normal da medula, podendo causar dor, perda de força ou alterações na marcha e no controle vesical.
- Sensibilidade reduzida: áreas abaixo da lesão têm menor percepção de dor ou pressão, exigindo cuidados constantes com a pele para prevenir ferimentos ou úlceras.
O ortopedista pediátrico atua preventivamente e corretivamente, monitorando o crescimento da criança, orientando o uso de órteses, indicando intervenções cirúrgicas quando necessário e garantindo que as articulações e ossos se desenvolvam de forma funcional, evitando complicações futuras.
O manejo da mielomeningocele é multidisciplinar e individualizado. Entre os cuidados essenciais estão:
- Reabilitação motora: fisioterapia e terapia ocupacional para fortalecimento muscular, treinamento de marcha, equilíbrio e autonomia.
- Uso de órteses: dispositivos como HKAFO, AFO ou SMO estabilizam articulações, corrigem desalinhamentos e facilitam a marcha.
- Cirurgias corretivas: fechamento da lesão, correção de deformidades ortopédicas e procedimentos para controle vesical e intestinal, quando indicados.
- Acompanhamento da hidrocefalia: monitoramento contínuo e, se necessário, válvula de derivação para drenar excesso de líquido no cérebro.
- Cuidados com a pele: prevenção de ferimentos e úlceras em áreas com sensibilidade reduzida.
- Monitoramento contínuo: consultas regulares com ortopedista, neurocirurgião, urologista e demais especialistas da equipe multidisciplinar.
Com acompanhamento próximo, intervenções precoces e suporte contínuo, é possível prevenir ou corrigir deformidades, otimizar a mobilidade, favorecer a independência e promover conforto e qualidade de vida para a criança e a família. O papel do ortopedista é central, garantindo que o desenvolvimento motor ocorra de forma segura e funcional, mesmo diante dos desafios impostos pela condição.
