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Osteocondrites

 

O que é? 

As osteocondrites ou epifisites, são desordens nas epífises, apófises ou fises em crescimento ativo. Ocorre uma alteração na ossificação endocondral em locais previamente normais, sendo uma condição própria do esqueleto imaturo, idiopática, e podendo ocorrer em quase todos os núcleos de crescimento do corpo, de forma isolada ou simultânea.

Causas.

Como mencionado, trata-se de uma alteração idiopática, de causa desconhecida, existindo 2 teorias principais: 

  • Alteração na vascularização secundária a trauma, infecção ou malformações congênitas. 
    Falha no processo de condrificação dos canais cartilaginosos no núcleo de crescimento por necrose dos mesmos. 
  • Apofisite por tração. 
    Osteocondrose da cartilagem não articulada. Relacionado a falha mecânica pela força longitudinal tendíneas e/ou ligamentar. 
     

Sintomas.

As osteocondrites acostumam ter uma história clínica bem definida e resultados previsíveis. O paciente pode apresentar dor, inflamação, inchaço/edema, diminuição do arco de movimento no local acometido, assim como alterações da marcha y distúrbios do crescimento.

Diagnóstico.

A suspeita diagnostica vem com os sintomas característicos da doença, onde a idade e outras características do paciente são fundamentais para levantar a hipótese e solicitar exames confirmatórios. 
Uma radiografia simples acostuma ser suficiente para confirmar a suspeita, onde provavelmente observaremos um tamanho diminuído do centro envolvido, um aumento da densidade, arquitetura irregular, áreas de necrose dadas por reabsorção, revascularização e/ou reossificação óssea, e até separação de um fragmento osteocondral livre. Podendo ou não voltar ao aspecto normal em algum momento, de acordo com cada caso. 

Tratamento.

Estas alterações acostumam ser autolimitadas, e responsivas ao tratamento conservador ou sintomático, com analgésicos, AINHS, repouso e gelo. Em alguns casos a reabilitação é necessária para recuperar o arco de movimento e força muscular. A cirurgia pode ser indicada em casos severos, com o intuito de estimular a cicatrização, remover fragmentos ou corrigir alinhamentos. 

Tipos.

A seguir os principais tipos de osteocondrites. Descreveremos posteriormente e de maneira mais detalhada as mais frequentes.


Membro superior.

  • Capítulo – Panner.
  • Côndilo umeral – Froelich. 
  • Radio proximal – Schaefer.
  • Radio distal – Madelung. 
  • Semilunar – Kienboch.
  • Escafóide – Preiser.
     

Coluna e pelve.

  • Vértebra – Scheuermann.
  • Crista ilíaca – Buchman. 
  • Sínfise púbica – Pierson
     

Membro inferior. 

  • Cabeça femoral – Legg – Perthes.
  • Tíbia proximal – Blount. 
  • Tuberosidade da tíbia – Osgood Schlatter.
  • Apófise do calcâneo – Sever.
  • Navicular – Koheler.
  • Cabeça do metatarso – Freiberg.
  • Base do 5º metatarso – Iselin. 


 

Iselin – Base do 5º metatarso.

Epifisite por tração (Fibular Curto) da base do 5º metatarso. Comum em adolescentes, que praticam esportes como corrida e salto (stress em inversão do antepé). Mais comum em meninos por volta dos 12 anos, e meninas aos 10 anos. 
O quadro clinico consiste em dor local à palpação e sustentação de carga, edema e eritema local, dor a versão contra resistência, flexão plantar forçada e dorsiflexão. 
No Raio X Oblíquo: Núcleo pequeno em forma de concha, com orientação oblíqua. Fragmentação e alargamento da epífise. Localização lateral e plantar.
Na cintilografia óssea mostra um aumento da captação. 
Tratamento é conservador, com limitação das atividades, gelo e AINES. Imobilização gessada pode ser necessária para alivio dos sintomas. Cirurgia não é indicada.


 


Sever – Apófise do calcâneo.

Apofisite do calcâneo (osteocondrose não articular). Causa comum de dor no calcanhar em crianças que praticam esportes/atletas, por micro traumas ou over use. Mais comum em meninos (3:1). Por volta dos 12 anos de idade. Bilateralidade é comum (60%). 
O diagnóstico é clinico, e o quadro consiste em dor no calcanhar pelo impacto e tração do Tríceps Sural, sinais inflamatórios, dor à compressão médio lateral da tuberosidade do calcâneo. A radiografia pode não ser característica, mas pode ser visualizada esclerose ou aumento da densidade na região, assim como fragmentação da apófise do calcâneo. A ressonância magnética pode auxiliar no diagnóstico diferencial entre fratura por stress, lesões líticas e osteomielite. 
O tratamento também acostuma ser conservador, sendo uma doença auto limitada, com restrição das atividades físicas, AINES, alongamentos do Aquiles, calcanheiras, e imobilização em casos refratários. A cura acostuma ocorrer em 2 – 6 meses. A cirurgia não é indicada.


 

Koheler – Navicular.

Osteocondrite do navicular (último osso do pé a ossificar). Crianças com 2 – 3 anos, mais comum em meninos 4:1. Frequentemente bilateral. 
A clinica consiste em uma marcha antálgica, apoio na borda lateral do pé, dor e edema dorso medial. Sinais inflamatórios ocasionais. Arco de movimento normal do pé. 
Nas radiografias observamos esclerose, fragmentação, achatamento do navicular. 
Trata-se também de uma doença autolimitada, e não acostuma a deixar deformidades ou sequelas na vida adulta. O tratamento também é conservador, com medidas sintomáticas e suspensão da carga. Uma imobilização gessada pode ser necessária por algumas semanas nos casos refratários e muito sintomáticos. A necessidade de cirurgia é muito rara.


 

Osgood Schlatter – Tuberosidade da tíbia.

Apofisite por tração do núcleo de crescimento da tuberosidade da tíbia. A idade mais comum é entre os 10 e os 15 anos. Mais comum em meninos. Frequente em atletas (saltadores). 20% é bilateral. 
O quadro clinico pode ser leve, 76% sem sintomas importantes, 60% apresenta dor ao ajoelhar, e a maioria quando na fase aguda (4 a 6 meses) apresenta dor, proeminência e sinais inflamatórios na região anterior e proximal da tíbia (da tuberosidade). Depois deste período e aproximadamente durante 2 anos, o paciente pode apresentar dor e edema no local, usualmente após atividade física, intermitente, e com resolução espontânea após esse período.  
Na radiografia, visualizamos fragmentação da tuberosidade da tíbia e ocasionalmente ossículos livres na região, ou fraturas. 




O tratamento sempre é conservador em crianças (esqueleticamente imaturos). Na fase aguda é indicada a limitação das atividades, gelo, AINES. A imobilização é indicada em casos graves, na fase aguda. Na fase crônica, alongamentos e fortalecimento do quadríceps e flexores. O tratamento cirúrgico pode ser indicado em esqueleticamente maduros, se os sintomas persistem por mais de 2 anos, através da ressecção de corpos livres e debridamento da proeminência, assim como a estabilização da tuberosidade com plugs ósseos quando necessário. Uma temida complicação é o fechamento prematuro da tuberosidade e consequente recurvato.