Dra. Daniela Maury

Tratamento ortopédico em paralisia cerebral: opções atuais e resultados

04/10/2025

Receber o diagnóstico de paralisia cerebral pode gerar muitas dúvidas e preocupações para os pais. É natural sentir medo do futuro ou se questionar sobre o desenvolvimento motor da criança. É importante lembrar que cada caso é único e que, com acompanhamento especializado e estratégias adequadas, é possível melhorar a mobilidade, a postura e a qualidade de vida.

O que é

A paralisia cerebral não significa ausência de funções cerebrais, trata-se de uma lesão no cérebro imaturo, geralmente causada por prematuridade, baixo peso ao nascer ou falta de oxigenação adequada no período neonatal. Essa lesão é estática, ou seja, não piora com o tempo. No entanto, os músculos podem se tornar espásticos (mais rígidos), o que pode gerar deformidades articulares se não houver tratamento. O comprometimento costuma ser predominantemente motor, e muitas crianças mantêm a inteligência preservada.

O tratamento ortopédico visa gerenciar a espasticidade, prevenir deformidades e melhorar a função motora, por meio de uma combinação de órteses, fisioterapia e, quando necessário, intervenções cirúrgicas.

A avaliação ortopédica deve começar logo após o diagnóstico de paralisia cerebral. Os sinais de alerta incluem:

  • Rigidez muscular e dificuldade de movimento;
  • Atraso no desenvolvimento motor (demora para rolar, sentar ou andar);
  • Alterações na postura, quadris, joelhos ou pés;
  • Dor ou desconforto ao caminhar ou sentar;
  • Necessidade de apoio para locomoção.

O diagnóstico e a indicação de tratamento são feitos por ortopedistas pediátricos especializados, em conjunto com fisioterapeutas e outros profissionais de saúde. Exames físicos e de imagem, além de análises da marcha, ajudam a definir a melhor abordagem.

O tratamento ortopédico pode incluir:

  • Órteses: Dispositivos que estabilizam pés, tornozelos ou coluna, melhorando a postura, prevenindo deformidades e auxiliando na marcha.
  • Terapia física e ocupacional: Fisioterapia fortalece os músculos, melhora a coordenação e aumenta a amplitude de movimento; terapia ocupacional auxilia na autonomia nas atividades diárias.
  • Cirurgias ortopédicas: Indicadas quando deformidades ou espasticidade impedem a mobilidade. Procedimentos comuns incluem alongamento de músculos e tendões, osteotomias (realinhamento ósseo), artrodese (fusão óssea) e correção de escoliose. Em casos selecionados, a rizotomia dorsal seletiva reduz a espasticidade de forma duradoura.

O objetivo é melhorar a mobilidade, aliviar dores, corrigir deformidades e permitir maior independência.

O que os pais podem fazer

  • Antes da consulta: observe e registre padrões de movimento, limitações e eventuais desconfortos.
  • Durante o tratamento: siga corretamente os exercícios de fisioterapia, utilize as órteses conforme recomendado e participe das orientações médicas.
  • Após cirurgias: acompanhe o processo de recuperação, que pode exigir reaprendizado de movimentos e sessões de fisioterapia contínuas.
  • Integração da equipe: incentive a comunicação direta entre ortopedista e fisioterapeuta, garantindo um tratamento coordenado e efetivo.

Cada criança se desenvolve de forma única. O tratamento ortopédico, quando conduzido por uma equipe especializada, pode transformar a trajetória da criança com paralisia cerebral, proporcionando maior autonomia, conforto e qualidade de vida. É essencial buscar orientação de profissionais capacitados e investir na participação ativa da família. Pequenos ganhos, conquistados com paciência e acompanhamento adequado, representam grandes avanços na independência e no bem-estar da criança.